quinta-feira, 29 de abril de 2010

O quarto

Há dias esse quarto estava inativo, nenhum movimento, nenhuma ação. Estático! Totalmente parado no tempo, deixado como estava dias atrás. Aparentemente só entraram para limpar, mas todo o resto tinha medo.

De fato a Moradora dele não estava mais residindo nele, ninguém sabia quando ia voltar ou se ia voltar. Preferiram deixar como estava. Era o "por via das dúvidas". Mas muitos já pensavam nos planos futuros para o quarto, o que poderia ser feito ou melhorado caso a moradora não voltasse. Ou até mudar a mobília de lugar para agradar a Moradora.

Não, pensava o menino, ele não queria ter pensamentos desse estilo. Todas as vezes que eles vinham ele abolia de sua mente, não queria pensar em nenhuma mudança. Ele não gostava de mudanças em sua vida, não tão drásticas e repentinas como essa poderia ser. Gostava de coisas programadas, apesar de não querer programar a falta de convivência com a Moradora de forma alguma.

Mesmo não admitindo ele gostava de ver o feixe de luz da porta semi aberta todas as noites, espiá-la fazendo sapatinhos para os bisnetos imaginários. Gostava e achava engraçado a ouvir conversando com a televisão que estava no quarto ou mesmo brigar quando via futebol. Achava magnífico ela gostar de futebol, ele também gostava e não se sentia tão diferente por isso.

O silêncio eloquente da casa sem a Moradora e sua acompanhante era estranhamente assustador. Não haviam sons de pessoas, conversas e televisões. Não havia comida, mas isso não era de assustar por completo o menino, ele sabia se virar muito bem na cozinha pois tinha aprendido muita coisa vendo a Moradora preparando seus quitutes cheirosos.

Havia quatro dias que ela não estava mais lá, contudo não era a primeira vez que ela fazia isso. O menino lembra muito bem das múltiplas vezes que ela saia assim quando ele era pequeno. Porém dessas vezes era tudo vago e distante, talvez queriam privar e protegê-lo do que poderia ser a saída da Moradora. Tanto que ele era retirado da casa e ficava ao cuidado de outros, tudo passava a ser interpretado como uma mini-viagem em casa de amiginhos criança.

Dessa vez foi diferente, ele pode participar ativamente do fato. Sentiu-se útil e prestativo, mesmo que o máximo que pudesse fazer era abraçar ou conversar. O menino não podia curar, não quis seguir esse caminho e isso martelava pela enésima vez em sua cabecinha não tão mais infantil.

A casa estava vazia, só ele e o moço. Mesmo que a relação dos dois fosse boa, não se comparava com a que mantinha com a acompanhante ou mesmo a Moradora. Então sempre existiam os vácuos falantes em que não se sabia o que falar ou fazer. Quando isso acontecia cada um deles ia para um lado ou comia ou falavam trivialidades do tempo, típicas conversas de elevador.

O menino passou esses dias pensativo, tentando evitar ao máximo olhar para o quarto. Promessas de não pensar ou chorar sobre isso eram inválidas. Já não ligava mais o que poderiam achar se vissem ele só, com o fone de ouvido deixando lágrimas escorrerem em seu rosto. Nada o atingiria mais do que esperar notícias dela e sentir o desespero na voz da acompanhante.

Mesmo que ele desejasse um abraço, alguém para gastar a tarde e fazer esse tempo lerdo passar, não falava. Talvez imaginasse que ninguém conseguiria acalmar a angústia e impotência que sentia. E ele realmente não se sentia bem quando era tomado pela impotência, em especial nesse caso pois ele podia não o ser se tivesse feito escolhas diferentes no passado.

Enfim..... Não adianta mais fraquejar pelo passado, nada mudou nem nada mudará. Ou melhor, talvez tudo (exagerando) tenha mudado nesse menino. Alguns conceitos e formas de ver a vida novamente bateram a porta dele, ele só espera que dessa vez ele os siga ou pelo menos tente. Já basta de sofrimentos nessa casa do quarto parado.

O quarto...
O menino só reparou que refletia sobre isso tudo olhando justamente para o quarto que havia se prometido não olhar, não queria lembrar da Moradora. Porém, dessa vez, tinha algo diferente no quarto. Ainda estava escuro, de fato, mas tinha uma luz, aquela velha conhecida fresta de luz. Ele desejava que ela tivesse voltado enfim e todo equilíbrio seria reconquistado. Dessa vez com o apoio dele já que tinha aprendido a lição e tentaria não mais reclamar.

Piscou, fechou os olhos, contou até três e abriu novamente. A luz ainda trazia seu efeito Tyndall, adorado por ele. Criar coragem de olhar entre a fresta da porta não era fácil, não queria se decepcionar ao ver outra pessoa dentro do quarto. Na verdade não podia imaginar outra pessoa morando no lugar dela, jamais!

A visão nos segundos posteriores podem ser descritas com duas palavras: sorriso sincero! Algo que não aparecia no rosto dele há dias, um erro! Ele tinha um belíssimo sorriso.

Pode ser que nem tudo estava como antes, nem perto o equilíbrio estava de ser atingido. Mas era bom de qualquer forma essa súbita volta como foi a súbita pausa. Em poucos dias esse menino pôde se sentir um homem e se tornar felizmente um.

Agora a vida continua.....

2 comentários:

  1. Ok, eu prefiro nem discorrer por aqui.
    Me ligue no final de semana pra gente conversar? Se não ligar, eu ligo... pode ser pra sentar e algum lugar pra bater papo mesmo.
    Se cuida Mavi ;*

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  2. Eu topo caminhar muito facilmente.
    Vou estar do lado do parque, na casa da namorada... que horas? (:

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